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A verdade do vinho no Brasil

26 de agosto de 2013

Pequenas Vinícolas Agonizam

por Luís Henrique Zanini

(produtor de vinhos no RS)

 

O dado é estarrecedor. Mais de duas centenas de vinícolas fecharam nos últimos três anos apenas no estado do Rio Grande do Sul. A Serra Gaúcha é a que mais sofre com estas baixas. As vinícolas familiares vão fechando uma a uma. Porões que antes armazenavam vinhos agora servem de garagem para tratores. Áreas destinadas ao cultivo da uva estão virando pomares de ameixa e pêssego, culturas mais promissoras. É o prenúncio do fim da vitivinicultura familiar? E o pior, não se vê qualquer reação por parte do governo nem por parte das entidades que deveriam lutar pelos interesses da vitivinicultura: todos assistem a quebradeira generalizada fingindo que nada está acontecendo. Ou pior, sabem o que está acontecendo mas em nome de interesses de grandes companhias, fingem que se trata da seleção natural do darwinismo econômico.

 

Será o fim da cultura da vitis que tanto enobreceu os nossos antepassados? Por que o Simples não pode ser adotado pelas pequenas vinícolas? Por que é tão difícil reduzir a carga tributária do vinho? Por que somos reféns da boa ou da má vontade dos políticos? Por que o empenho para a adoção do Selo Fiscal foi tão intensa e mobilizou até o Ministro da Fazenda, enquanto o empenho pelo Simples se reduziu a debates dentro das entidades e conteúdo de promessas eleitoreiras?

Os vitivinicultores brasileiros não deveriam tomar as ruas? Por que não parte do Ibravin a iniciativa de protestar em favor da vitivinicultura familiar? Por uma única razão: vendendo vinho ou não, encolhendo mercado ou não, desperdiçando dinheiro em promoções fracassadas ou não, todos os que lá trabalham podem dormir tranqüilos. E aposto que muito deles nem conhecem uma tesoura de poda e tratam o vinho como um produto de consumo qualquer como sabonete ou massa de tomate. Não entendem que o vinho é um produto cultural, reflexo das especificidades de cada terreno, de cada mão que o elabora.

As regras do marketing tradicional provam-se inócuas quando aplicadas ao consumo de vinho. A prova está no encolhimento da participação dos produtos brasileiros no mercado total de vinhos a despeito dos milhões investidos em divulgação no carnaval. Queremos um sistema tributário justo. Não queremos anuários, nem publicidade cara para cooptar (de)formadores de opinião. Não queremos investimentos em projetos megalomaníacos.

A nossa Copa do Mundo é outra. Não queremos NR, IN, nem qualquer outra normativa. Não queremos Selo Fiscal adotado a revelia da opinião da maioria dos produtores. O Selo Fiscal foi declarado como o meio perfeito para coibir o contrabando. Por ironia do destino somente as vinícolas brasileiras o utilizam hoje. Liminares concedidas a inúmeras importadoras isentam a obrigatoriedade do selo nos vinhos importados. Então pra que tanto alarde em torno deste instrumento que de antemão já denunciávamos como burro e ineficaz? Não existe nada que diferencie um vinho contrabandeado de um importado legalmente. Neste caso por que não revogam essa lei inconsequente que já nasceu morta?

 

Não queremos qualquer medida que burocratize o vinho. Queremos baixa de impostos, URGENTE. Queremos que cada real gasto em marketing corresponda a um ganho de fatia de mercado e não o contrário. Desejamos que todos os produtores de todos os tamanhos recebam apoio do Ibravin indiscriminadamente e que possam participar das feiras e de seus projetos de maneira digna. E espero acima de tudo que no próximo ano ainda existam pequenas vinícolas no Brasil para continuar a contar a história.