Outro dia dei uma aula de vinhos de sobremesa e, nestes tipos de vinho, as surpresas olfativas nunca são poucas.
Primeiro um espanhol clássico, da região andaluza de Jerez, feito com a uva Pedro Ximenez. As uvas (brancas) ficam em esteiras de palha até secarem para concentrar açúcar. Depois, durante a fermentação, adiciona-se um destilado de uvas, que para a fermentação, sobrando açúcar residual. Depois disto, o vinho fica ANOS (às vezes até uns 10) no sistema de criaderas y soleras, onde o vinho do ano vai se misturando com os mais antigos, para criar um sabor sempre único, mas igual ao longo dos anos. A Solera é a fileira de barricas do solo e as outras são as criadeiras. Por causa deste tempão que passam ali, os PX têm um aspecto oxidado e, apesar de serem vinhos brancos, são negros na cor e intensos demais no nariz.

PX como tem que ser
PX FERNANDO DE CASTILLA
Uma nota bem clara de couro, melaço de cana e café frio ( os aromas mais típicos dos PX). Depois, umas notas menos obvias (mas ainda bem críveis) de chá, argila, terra molhada e ameixa preta.
Depois de uma boa meia hora na taça, notas exóticas (difíceis de acreditar) de chá verde, vermute, alga japonesa! Sim, aquela alga que vai em volta do sushi…tenho testemunhas, meus alunos que estavam aqui.
Na boca é menos surpreendente, um pouco pesado demais, sem acidez para equilibrar. É xaroposo como melaço de cana e tem um retrogosto intenso de banana passa. Mesmo faltando equilíbrio, o vinho não deixa de ser interessante e extremamente saboroso, guloso, principalmente para os formiguinhas. É impossível tomá-lo e não pensar nele sobre um queijo picante ou, ainda como cobertura de um bom sorvete de baunilha. Na Casa Flora

Um Ste Croix du Mont superb!
O outro nariz exuberante e curioso vem da França. De um vinho produzido em uma AOC não muito conhecida, ali em Bordeaux, este Ste-Croix du Mont é extremamente curioso. Os vinhos doces da região são produzidos com as uvas brancas autorizadas em Bordeaux: Sémillon, que se dá super bem com botritis, Sauvignon blanc que ajuda a manter a acidez diante de tanta concentração de açúcar, e a muscadelle que dá um aspecto ainda mais aromático. O resultado, algo divertidérrimo: começa com uma nota meio de fumaça, capim queimado, um toque de plástico novo, silicone fresco, algo assim, tipo um cheiro de carro novo, resina. Depois notas florais super intensas, dama da noite, uma nota balsâmica, fresca, quase lembrando hortelã ou erva cidreira, capim limão. Na boca é bem doção, como esperado, mas com boa acidez e uma sensação alcoólica surpreendente que dá um certo calor, mas com essa nota de hortelã mastigada no retrogosto, parece que estamos comendo uma bala daquelas geladas. O vinho não é muito longo – também não é curto – mas o impacto que causa durante o tempo de sua presença é extremamente agradável. Recomendo demais.O vinho é o Château Crabitan-Bellevue 2006. No Club du Taste-vin.
Tags: aromas do vinho, botritis, jerez, pedro ximenez, sainte croix du mont, vinhos de sobremesa
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