Meu querido aluno Vitor, formado sommelier profissional em nossa primeira turma aqui da escola, mudou de vida, mudou de país e encontra-se na França estudando mais sobre vinhos e, claro, degustando tudo que lhe cai às mãos. Portanto, de vez em quando ele compartilha comigo o que anda tomando e vou compartilhar com vocês o que ele está aprendendo. Ele manda um pouco da informação sobre a região e fala do vinho que tomou de lá. Por mais que não estejam disponíveis no Brasil, fica a dica do estilo para vocês provarem.
Cahors é uma apelação de 4200 hectares localizada a sudeste de Bergerac. A principal uva cultivada na região é a Côt, ou Malbec e algum Tannat. O solo desta região é argilo-calcário, como em alguns dos melhores terroir de Bordeaux e grande parte dos vinhedos ficam próximos dos terraços do Rio Lot. Essa região tem uma curiosidade, os vinhos mais frutados são produzidos mais próximos do rio, nas encostas mais baixas, as médias altitudes produzem os vinhos mais encorpados e carnosos. E nos terraços mais altos produz-se o vinho mais rico e de guarda mais longa e neste caso as encostas podem chegar até 300 metros de altitude.
Rigal Malbec – The Original – 2009
Cahors – Dordogne – França
Malbec (tinto)
Aromas: Cereja preta madura, geléia, groselha, baunilha.
Boca: Muito frutado e potente. Vinho encorpado, acidez fresca e agradável, taninos firmes e elegantes, álcool justo, persistência longa e frutada.
Típico Malbec, frutado e grande, mas surpreende pelo equilíbrio de acidez, fruta, taninos e persistência frutada longa e baunilha no retro gosto.
Bergerac é uma região gigante, com 13 apelações e aproximadamente 12.500 hectares de vinhedos cultivados, onde 55% são uvas processadas por cooperativas e 45% produtores independentes. De maneira geral a legislação das AOC’s de Bergerac são mais maleáveis do que em Bordeaux, porém nas AOC’s de Bergerac só são permitidos o plantio de até 3000 vinhas por hectare, enquanto algumas apelações de Bordeaux permitem até 6500 vinhas por hectare.
O solo de Bergerac é composto em sua maioria de areia e argila e seus verões são mais quentes que as áreas de Bordeaux mais próximas do Atlântico.
As principais uvas da região são as mesmas encontradas em Bordeaux, tanto para tintos (cabernet sauvigon, cabernet franc, merlot, malbec) quanto para brancos (semillon, sauvingnon blanc, muscadelle). As exceções são chenin blanc e ugni blanc.
Château Grinou – Cuvée des Moines – 2009
Bergerac – Dordogne – França
Merlot (tinto)
Aromas: Chocolate, ameixa, cassis, café, anis.
Boca: acidez viva, taninos firmes, pouca persistência, final amargo elegante (café).
Álcool quente.
Vinho muito jovem. Ainda estava evoluindo na garrafa. O carvalho não estava muito bem integrado com a fruta.
De maneira geral o vinho é muito similar aos vinhos comercializados com a apelação de Bordeaux Superior, porém é uma opção muito mais econômica e não necessariamente de qualidade inferior.
Tags: Bergerac, cahors, sudoeste da frança, vinho francês
23 de fevereiro de 2011 às 12:05 |
Olá, Alexandra e Vitor
Lendo o post, lembrei-me de uma outra apelação da qual gosto muito e que foi responsável por eu ter conhecido Cahors. Ainda que não esteja no Sudoest, fica em Languedoc, guarda algumas semelhanças com os vinhos dessa região. A apelação é Faugères, que mesmo na França não é muito fácil de encontrar em qualquer cave. Gosto particularmente do rótulo Prestige do Château Haut-Fabrègues, provei os milésimmes 2002 e 2005 se não me falha a memória. O de 2002, meu favorito, tem um bouquet marcante de frutas negras e especiarias, é volumoso e potente. Talvez lhe falte delicadeza… Mas de forma geral sempre me agradou, sobretudo frente a um steack au poivre. Segue o site do Château http://www.vins-de-faugeres.com/vins.php , rico em informações. Eles estão sempre no salão des Vignerons indépendants, no final do ano em Paris (Vitor certamente desembarcará por lá). Se tiverem oportunidade de degustá-lo, gostaria de ler suas impressões aqui no blog.
Abs
Rafael
PS. Só conheço uma Cave em Paris que vende esse vinho, posso enviar o endereço depois.
23 de fevereiro de 2011 às 12:25 |
Realmente os vinhos do Languedoc podem ter uma semelhança em termos de força em relação aos Cahors. No entanto, têm um aspecto mediterrâneo, bem mais quente, de notas de frutas mais cozidas que o sudoeste não tem tanto. E, claro, como o sudoeste tem mais influência atlântica, os vinhos têm um pouco mais de acidez, apesar da força dos taninos e da terrosidade. Muito obrigada pelo seu rico comentário. Abrçaõ