Sobre o tempo de duração de um vinho

Outro dia fui convidada pelo chef Julinho para escrever um post em seu blog, sobre preço de vinho em restaurante.

A melhor parte são os comentários. Em um determinado momento do meu texto, cito que muitos clientes que não reclamam na hora de comprar canetas ou gravatas são “pegajosos” quando se trata de pagar vinho no restaurante. Diante desta parte do meu texto, um comentarista (comentador?) chamado Gallo, colocou o seguinte, que me chamou a atenção e me fez pensar sobre a “duração” de um vinho”. Abaixo o comentário.

“Além disso, comparar bens distintos como canetas, gravatas e vinhos desvia ainda mais a discussão. (…) Aliás, é natural que se pondere mais quando se compra um vinho, que se perde pela corrente sanguinea em minutos, do que ao gastar uma pequena fortuna em uma ótima gravata ou caneta que durariam anos a fio – provavelmente mais tempo que o dono”

Bem, pode ser que a duração física de um vinho seja isso mesmo que o Gallo comentou.  Mas, qual é a duração do momento do vinho na memória. Lembrei de um Ch. Palmer 1961, trazido por um cliente quando eu trabalhava no DOM, em 2001, que ele fez a gentileza de me deixar provar. Faz 9 anos. Eu ainda tenho ele aqui comigo, não fisicamente, mas dentro de mim. Lembro dele, de seus aromas, da gentileza daquele senhor que comemorava seus muitos anos de casamento. A sensação, quando lembro daquele vinho , é doce e aconchegante. Seus aromas, indefinidos e profundos, ainda estão na minha memória.

Assim, quando tratamos vinho como qualquer coisa, ele durará como “qualquer coisa” em nossas vidas, ou seja, minutos.  Quando tratamos o momento que passamos com um certo vinho com respeito e lhe damos o devido espaço, (não precisa ser um château palmer 1961) apreciamos, vivenciamos cada gota e cada segundo, o vinho não sai da gente em minutos. Porque o vinho não é apenas o seu lado mais físico, líquido. Sua memória (olfativa, sensorial) dura muito mais do que podemos imaginar. E, posso te garantir, essa experiência foi tão intensa que contarei a meu filho. E quando eu já não estiver aqui, este vinho e esta experiência ainda existirão.

Leiam o texto no blog do chef Julinho. http://botecodojb.blogspot.com/2010/08/alexandra.html.

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