Fui a um restaurante outro dia com minha irmã. O lugar tem uma sommelière. Começamos com 2 taças de Jerez. Veio quente. Não tive coragem de pedir para trocar porque a sommelière ficou me olhando meio simpática e eu não queria parecer a cri-crítica. Deixei quieto. Na verdade, dei uma comentada com a chef do restaurante, que estava conversando comigo.
Depois, pedi uma jarrinha que eles têm lá, um “mini-decanter’ de vinho branco, parece que equivale a meia garrafa. Eles foram servindo e nós fomos jantando.
Quando veio a conta, nos cobraram 2 jarrinhas. Eu chamei a garçonete, perguntei se estava certo. Ela foi verificar e me disse que, de fato, nós tomamos 2 jarrinhas. Eu fiz cara de estranhamento, falei “que estranho, porque não pedimos”. Aí, a sommelière não apareceu para dar uma explicação. Aliás, desconfio que ela já tinha ido embora.
Qual o problema aqui? Eu não pedi mais vinho. E ninguém nunca me perguntou se eu gostaria de tomar mais uma antes de me servir.
Não é função do cliente ficar controlando a altura da garrafa ou das jarrinhas servidas. Eu não reparei que a jarra ficou vazia e depois se encheu (até porque a jarra não ficou na mesa, já que o vinho era branco). Resultado, a jarra acabou, ela tomou a decisão de servir outra por conta própria e depois fui, é claro, cobrada.
Isto significa, portanto, que eu não posso confiar no (a) sommelier (ère)? Significa que eu vou em um restaurante e tenho que ficar checando o trabalho dele (a) , ou senão, serei tratada como trouxa? Quando comecei na profissão, todo mundo tinha medo de sommelier porque dizia justamente isso: sempre querem empurrar mais, fico constrangido de dizer não, ou com vergonha de pedir o mais barato na frente dos outros. Eu venho trabalhando há anos aproximando a figura do sommelier do cliente.
Portanto, uma jovem sommelière, como esta deste restaurante, fazer um coisa destas é um indicador de triste retrocesso. Será que vamos voltar ao serviço “old-school” ou velha guarda, que só vê um cifrão no cliente? Quando eu trabalhava em restaurantes aqui em São Paulo, reparei que era comum os maîtres ficarem empurrando vinhos mais caros, ou produtos mais caros simplesmente porque aumentavam o valor da caixinha.
Que eu saiba, o trabalho do sommelier é atender às necessidades do cliente e não às suas próprias. Claro, aí virão os justiceiros (que geralmente não têm noção do que acontece dentro de um restaurante) que dirão “ai, mas garçon ganha pouco”. Bem, isso é um outro problema. O serviço não deve ser afetado por esta questão (que pode ser discutida em outro momento) e não é disto que estou falando.
Empurrar mais uma jarrinha de R$ 50,00 em cima de um cliente, para aumentar R$ 5,00 a caixinha, que depois será dividida entre um monte de gente, vale a pena? Eu espero que valha, porque se um cliente percebe isso, ele nunca mais volta no restaurante. E aí, quanto o restaurante deixa de ganhar por causa de “esperteza” do (a) funcionário(a)? Bem mais do que cinco reais.
Tags: Alexandra Corvo, péssimo serviço de vinho, sommelier profissional, Uncategorized
27 de abril de 2010 às 10:42 |
Tá escrevendo com uma frequencia bem maior agora, professora…isso é ótimo!!
27 de abril de 2010 às 10:46 |
Pois é Rafa. Nada como ser independente e poder dizer o que se pensa, sem “moderadores” políticos. Neste novo blog sou só eu. Crua. (feminino de cru hhahaahahahah)
5 de maio de 2010 às 20:32 |
Alê,
Cheguei aqui pela Fê e estou lendo post por post. Só pela satisfação de ler algo tão gostoso! Uma delícia seus textos. Beijos Sá